18.6.09

Refúgio

Hoje passei por uma criança que corria pela rua.
Olhei para ela e o tempo parou.
Julgo que não reparou no meu olhar atento.
Julgo que para ela este momento nem sequer existiu.
(Recordações do tempo em que os momentos eram nossos)

Segui-lhe os passos.
A meio do caminho, ela olhou pelo ombro mas,
Definitivamente, aquele era tão somente o meu momento.
Porque o dela era outro.
Sorri.

(Estranho. Como pôde este momento ser só meu?)
Voltei a seguir-lhe os passos, sem alguma vez recusar a gravidade.
Aquele que antes era um ser pequeno ficou maior...
Porque o tempo é enzima e a memória, alimento.
Por instantes voltei a ser maior,
Voltei a ser pequeno...mas maior.
Apoderei-me da grandeza dos seus passos
E fiz-me autor.
E nos caminhos dos sentidos (re)vivi.
Agora sim, vou ser feliz,
Vou lembrar-me que nada realmente importa,
Vou sorrir de tudo o que não tem graça,
Vou cantar o que não é cantável,
Vou escutar o que mais ninguém ouve...

Mas ela mudou de rua,
E eu perdi-lhe os passos...