1.7.10

O meu futuro. O meu Ego. Aos 17.

Um texto sobre mim.

E o meu futuro. O meu ego.
Os meus caprichos.
A vida faustosa que me espera.
Ascensão e queda. Como me tornei famoso.
E como a escrita à la MEC, me trouxe a
fortuna e glória. Presunção. Água-benta. Stop.



No início de tudo era o Verbo. Depois a Verbo. Publiquei por essa editora um romance intitulado “Eu e os cães que tenho”. Rapidamente começou a bajulação. Deixei de ter de sorrir para os profs do Liceu e para as meninas das fotocópias para, por amor de Deus, me tirarem cópias dos apontamentos em escala mínima e resolução máxima
Deixei em suma, de ter de agradar. Deixei esse trabalho para os meus colegas de quem eu não me esqueço (sim, ainda hoje vou ao McDonald`s).
No livro. Escrevi assim. Curto. Pequenino. A minha mãe sempre me disse. Que. Quem muito fala. Pouco acerta.
Fiquei famoso. Dei uma entrevista ao Carlos Pinto Coelho em que falei numa África que não conheço: a Margarida Marante chamou-me “fenómeno geracional”. O Emídio Rangel convidou-me para apresentar “Cultura em Movimento”. O Júlio Isidro quis-me para o prefácio das “Aventuras do Tio Julião”. A Anabela Mota Ribeiro piscou-me os olhos. O Abrunhosa pediu-me uma Letra. A Mafalda Veiga uma música. O Nobel parabenizou-me.
A minha mãe passou a achar-me bonito.
O mundo tinha outra cor. Comecei a faltar às aulas porque tinha entrevistas para dar. Falei de mim, o outro Ribatejano. E, como até mesmo os maus poetas, conseguem por vezes versos geniais.
Eu disse que. Eu acho. Eu sei. Eu soube. Eu contei. Eu fiz. Eu ando. Eu sou…!
Mas ainda era muito novo. Apenas um livro. Um título. Nenhum prémio. Daí que comecei a ir a fêstas do Social. Onde estava o mundo. Beijei imênsas faces uma única vez. Fui convidado para festas de amigos que não conhecia. Osculei velhas de 50kgs mais 10kgs de jóias. Fui a lançamentos de livros, a festas de caridade, ao baptizado do 11º filho de D. Duarte e ainda fui Dj na Kapital, na festa de anos da Catarina Furtado.
Engraxei escritores, ministros, apresentadores de televisão, comentadores, analistas, produtores, e até um técnico de arrumação automóvel que confundi com Jorge Palma.
Disse que era pela Paz, que Diogo Infante era o melhor actor Português. Entrei numa Telenovela em interpretei um ilustre técnico de Cívil que escreve um livro e fica famoso. Falei das minhas namoradas, dos carros que queria ter, mostrei o interior da minha casa com a mesa da sala cheia de Novas Gentes e, deixei-me inclusivamente fotografar com o bebé de uma das minhas empregadas ao colo.
Disse ainda que lia Pedro Paixão, que Miguel Esteves Cardoso é o maior, que Miguel Sousa Tavares é um “tipo com piada”, que o Fado faz parte de nós, e que o ministro da cultura não presta mas Manoel de Oliveira, é genial.
No entretanto, escrevi o meu 2º Romance: “Ó Nina, sei lá!”, com o prefácio de Miguel Ângelo.
Lancei-o na mãe d`Água, atirando alguns exemplares para o Largo do Rato, tentando fazer uma piada política. Carlos Carmo riu imenso. Lembro-me que estava Himalaias de bem vestido nesse dia. Tinha imitado uma fotografia de José Luis Judas na baía de Cascais. Ninguém me podia deter! Nessa noite, dei uma entrevista no Jornal da Noite e disse que, não me considero superior a mim mesmo. Convidei para a festa dessa noite, todos os amigos de longa data e no final, discursei a importância que tiveram no meu percurso, Ah! E convidei também a rapariga que conhecera na noite anterior na Kapital. Apaixonara-me imediatamente. Aquelas argolas nas orelhas por onde até tigres passariam, aquela t-shirt a dizer Kookay. Um traseiro que não fazia jus à t-shirt, a maneira lânguida como segurava no copo de Pisang Ambon e me dizia: “Não sabia que se cantava nos Lusíadas”.
Casei. E gostei tanto de casar que casei mais 5 vezes.
Ganhei um prémio atribuído pela Federação Nacional de estudantes de Civil para honrar o romance de um ex-aluno. E disse que, às vezes, sentia o génio dentro de mim.
Hoje fumo cachimbo. E escrevo. Ainda. Tenho um programa no Canal Vivir que vai para o ar antes dos filmes pornográficos e que se chama: ”Grandes obras deste Século”. A Rita Ferro é a minha partenaire e os convidados são pessoas de outras eras. João Pinto, Luís de Matos, Alexandra Lencastre, João Baião, Margarida Rebelo Pinto,… Falamos do passado e dos projectos para o futuro. No fim, cantamos velhas canções dos Silence 4.
Jogo bridje. Golf. Tomo café na Mexicana. Tenho uma coluna na Caras e uma hérnia discal. E um Ferrari com 20 anos. Já não me dói o nariz da plástica recém feita. Não publiquei mais nenhum livro. Sou feliz.

Este texto ficou mesmo giro...Saudades dos tempos de liceu!!